segunda-feira, 30 de julho de 2007

Notícia muito quente pode queimar!


Tarde de terça-feira, 17 de julho, mês de férias e movimento intenso nos conturbados aeroportos brasileiros. Termina a viagem de quase 200 pessoas num vôo tranquilo pela TAM, mas o pouso reuniu uma série de componentes sinistros e acabou em tragédia quando o avião se descontrolou e acabou batendo contra o prédio da própria companhia. A notícia caiu como uma boma nas redações que em horário de troca de turno precisaram se deslocar e advinhar o que estava acontecendo para não levar os tão temidos "furos". Ainda havia fumaça nos escombros e os bombeiros tentavam resgatar sobreviventes e conter as chamas, mas o "O Globo" já tinha as informações para a edição do dia seguinte.

Tragédia anunciada: "Dez meses depois do que tinha sido o maior acidente da aviação brasileira, um Airbus A-320 da TAM, com 176 pessoas a bordo – 170 passageiros e seis tripulantes – explodiu por volta das 18h50m de ontem, após derrapar na pista principal do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, tentar arremeter, atravessar a movimentada Avenida Washington Luís e se chocar, do outro lado da pista, contra um prédio onde há um depósito de combustível da própria TAM." (O Globo, 18/7/2007)
O texto não deixa dúvidas. Cidadãos de todo país repassam as informações perplexos sem contextar suas fontes e jornalistas de outras redações se perguntam, também perplexos, como se consegue tantas informações tão precisas em tão pouco tempo? A Rede Globo teria mesmo uma capacidade sobre humana de conquistar fontes e descobrir tudo antes que qualquer mortal pudesse avaliar o tamanho do estrago? As respostas viriam rapidamente, as informações foram supostas. Depois do pronunciamento oficial da TAM vieram as sessões de correção: 185 pessoas a bordo, e depois mais um passageiro-tripulante e claro, a culpa é do piloto, de quem mais poderia ser? Congonhas tem problemas sim, mas o piloto errou. Falta de ranhuras na pista, obra inacabada, falha humana, tempo incerto, muita gente na Washington Luís, nem era horário de trabalho no prédio da TAM. Sim, absurdos e mais absurdos foram tomando conta das páginas de jornais de todo país que tiraram a paz de pessoas que ainda estão sentindo a dor da perda e da indiferença das autoridades, para estampá-las em suas páginas e sustentar o sensacionalismo. Ainda hoje não se sabe ao certo quantas pessoas foram vitimadas no acidente e muitas ainda não foram identificadas. Destas, as famílias não terão a chance de se despedir e receberão uma declaração de morte presumida. Fica a dúvida, quem é mais sensacionalista? A imprensa que se esbalda com notícias dessa importância ou o Governo que cria justificativas sem nexo e toma providências sem eficácia facilitando ainda mais a vida do jornalismo urubu?


(foto: folhaonline)

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei da nova expressão! Jornalismo urubu é um ótimo nome para nossos colegas carniceiros.
Carlos Eduardo